A Nostalgia do Cinema

Leonardo Stoffels
4 min readFeb 17, 2022

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Um texto sobre pipoca, infância e filmes.

Um dos prazeres da minha infância era passar as tardes chuvosas comendo pipoca e assistindo um filme exibido na sessão da tarde. De cara, lembro de assistir As Tartarugas Ninja 3 e ficar muito brabo, pois saiu a luz naquele dia e só voltou nos últimos 10 minutos de filme. Mas tudo bem, esse episódio não anula o prazer daquelas tardes, regadas a milho e açúcar (sim, eu comia pipoca com açúcar).

Os filmes que a gente assiste na infância tem um sabor especial, uma magia que não se repete quando fazemos o mesmo na vida adulta. Não que assistir filmes não seja prazeroso em qualquer idade, mas nada se compara aos primeiros anos de vida, quando tudo ainda é novidade. Boa era a sensação de ir na vídeo locadora e alugar o filme depois de meses esperando ele sair do cinema e chegar ao VHS. Aliás, não fui no cinema quando criança, pois sempre morei em uma cidade pequena, onde até havia uma sala de cinema — o antigo Cinerex (Cerro Largo, RS) -,mas que já não exibia filmes, salve uma exceção, o que nos leva ao assunto do próximo parágrafo.

A primeira fez que fui numa sala de cinema para ver um filme foi quando o cinerex fez uma exibição de O Código da Vinci, em 2006. Não lembro muita coisa sobre o filme — eu tinha 12 anos e meu déficit de atenção era ainda maior para esse tipo de conteúdo — mas lembro do cheiro fedorento de pipoca (pipoca é bom, mas nem todas tem um odor tão bom quanto o gosto), da tela, que não tinha muita qualidade de imagem, e do som, que também não era muito agradável. Ainda assim, foi uma experiência e tanto e me trouxe uma esperança frustrada, pois eu e muitos cerrolarguneses acreditávamos que o cinema voltaria a funcionar na cidade e que assim teríamos um recanto para assistir os lançamentos da sétima arte. Infelizmente não aconteceu, nenhum filme seria rodado no cinerex depois de O Código da Vinci.

De 2006 pra cá, minhas experiências no cinema enquanto espaço físico não foram muitas. No ano seguinte eu assistiria o filme sobre um cachorro que tinha super poderes, acho que era Vira-Lata o título, em São Leopoldo (RS); em 2014 vi Mad Max, em Santo Ângelo (RS); 2015 foi a vez de Star Wars: O Despertar da Força; e acho que no mesmo ano ainda assisti Os Oito Odiados. O que totaliza apenas 5 filmes assistidos num cine!

O primeiro filme em VHS que lembro ter alugado em uma locadora foi Digimon — O Filme (inclusive em um sábado chuvoso), uma experiência maravilhosa para mim, que era muito fã do anime. Já o primeiro em DVD, foi Harry Potter e a Câmara Secreta, mais numa tentativa de copiar o filme para um disco pirata do que para assistir a película alugada. Aliás, eu passaria um bom tempo tentando piratear filmes em DVD, era difícil fazer isso por duas razões: uma era que as mídias originais eram protegidas contra cópia — não era qualquer programa de computador que podia fazer uma gravação — e outra era que muitos dos discos de DVD original eram em dupla camada, ou seja, o arquivo do filme era mais pesado do que o espaço disponível nos DVDs virgens (para onde ia a cópia). Mas um dia um vizinho fez o milagre de recomendar um software que compactava o filme e ainda removia o selo de proteção contido no DVD. A recompensa de gravar um filme na época era maior do que a de baixar um filme hoje, ou de assistir no streaming ,o que nos leva ao próximo assunto.

O primeiro filme que baixei com internet banda larga foi o de estreia da franquia Sexta-Feira 13 (aquele de 1980, em que quem matava era a mãe do Jason). Era em RMVB, o formato de arquivo mais leve que existia na época e que hoje nem pode ser reproduzido, pois não há monitores com uma resolução tão pequena para rodar aquela imagem de 0 megapixels. Mas na época aquilo foi um verdadeiro milagre. E hoje? Bem… temos Netflix, Primme e HBO, com bibliotecas vastas de títulos a serem assistidos (no Brasil nem tanto, mas que seja!), e a minha vontade de ver um filme nunca foi tão fraca.

Acho que eu preciso de mais pipoca…e de preferência com açúcar!

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Leonardo Stoffels

Estudante de psicologia; trágico,neurótico e paranoico, mas gente boa…ou não!