Despertadores ou desperta dores

Leonardo Stoffels
2 min readJul 7, 2022

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Houve uma época em que existiam despertadores humanos. Sim, na revolução industrial havia o knocker-up, um profissional que usava um bastão para para acordar seus clientes, cutucando as janelas de suas casas. A pergunta que fica aqui é: quem acordava esses profissionais?

Acontece que quando se tem uma rotina, o próprio corpo se acorda. Ele tem inteligência suficiente para isso, deve ser por isso ele nos acorda quando estamos cochilando no ônibus e chegando ao nosso destino (se isso for rotineiro). E mesmo acordar sendo algo tão simples, ainda assim é tão difícil sem um despertador.

Por muito tempo o pior som que eu conheci eu atribuía ao toque de alarme que estava programado no momento em que pensava na questão, porém hoje não tenho mais essa impressão. É de se esperar que a gente sempre enjoe do som do nosso despertador, mas por algum motivo isso não me afeta mais — uso o mesmo toque de alarme há meio ano. Não posso negar, no entanto, que muitas das minhas piores lembranças estão relacionadas ao ato de acordar por meio de um despertador.

De todos os prazeres que existem, o do sono é o mais traiçoeiro. Sim, pois só o sentimos quando não estamos usufruindo dele. Acordar cedo contra a própria vontade me faz gostar mais de dormir do que simplesmente dormir sem ter hora pra acordar.

Bem, prazeroso ou não, o sono é importante. Dormir de menos ou demais prejudica e muito a qualidade de vida. Os neurocientistas dizem que os adultos precisam dormir de 7 a 9 horas de toda a noite, caso contrário o dia rende menos e a saúde piora. Dizem ainda que não devemos usar o celular ou se expor a luz antes de ir para cama. Dizem que não devemos fazer refeições muito pesadas, nem exagerar no álcool. Dizem que não devemos dormir com a bexiga cheia. Dizem que devemos dormir cedo e que não devemos acordar tarde. Dizem que não devemos usar ansiolíticos para combater nossa insônia.

Pois é, eles dizem muita coisa. Mas dormir bem é uma tarefa cada vez mais difícil num mundo tão frenético e cheio de estímulos. Me pergunto o que aconteceria se uma máquina do tempo trouxesse os despertadores humanos para o século XXI. Será que eles acordariam sem um despertador? Duvido!

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Leonardo Stoffels

Estudante de psicologia; trágico,neurótico e paranoico, mas gente boa…ou não!